segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Lembranças da inquisição


Em geral, o espírito, enquanto vive no egoísmo, encarna compulsoriamente (1) e desencarna, sofrendo as conseqüências do mal que disseminou, sem se dar conta de que só o amor interrompe esse processo danoso. Quando se arrepende, pede uma encarnação iluminativa, trazendo na maioria das vezes a mediunidade, como ferramenta de elevação, prometendo ajudar àqueles que vivem na ignorância e no desespero. Mas nem sempre isso acontece. Chegando a Terra, encontra os apelos ao prazer e da fantasia inebriante, esquecendo-se do compromisso assumido.

Desencarna com sentimento de culpa e reencarna com potencial às diversas patologias psiquiátricas como a esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno bi-polar, entre outras.



Às segundas-feiras, costumo chegar ao CEEAK à tarde, a fim de me preparar, bem como ao ambiente, para o trabalho de desobsessão que acontece à noite. Num desses dias, estava no salão de palestras lendo alguma coisa, quando entra um jovem, com presumíveis 25 anos, em prantos, me implorando ajuda. Dizia que tinha sido internado com crises, porque um espírito o torturava, falando repetidas vezes que ele deveria suicidar-se. Seu desespero era assustador, o que nos levou a cuidar do caso com presteza, dado a gravidade do assunto. Havia ali um suicida em potencial.

Fizemos uma longa entrevista, buscando no Evangelho as orientações sempre seguras para o aconselhamento, ministrando passe e oferecendo água fluidificada. O paciente acalmou-se, agradeceu e encaminhou-se para uma das alas de internação, com nossa orientação de procurar uma casa espírita, ao sai da internação, a fim de tratar-se e trabalhar no bem, permitindo que os espíritos perseguidores também sejam ajudados.


À noite, na sessão de desobsessão, um espírito manifestou-se, dizendo-me: “Moço, não adianta o senhor pedir por ele. Aquela criatura não presta! Ele não vale nada! O senhor está perdendo o seu tempo, porque logo que ele se sentir melhor, vai fazer tudo de novo, explorando e abusando das pessoas! Eu venho perseguindo essa criatura desde a outra encarnação, quando o fiz se suicidar. Agora, nem preciso ficar em cima dele. O pessoal daqui me ajudou a colocar um aparelhinho (2) na cabeça dele, que fica repetindo minhas palavras, mandando ele se matar.” Durante o diálogo, perguntei o porquê daquela cobrança. Ele me disse que ele e sua família eram Cristãos Novos (3) numa cidade portuguesa e foram perseguidos, presos, extorquidos e abusados pelo padre inquisidor, que era o rapaz reencarnado no Brasil. Depois de longa conversa, sem que o espírito mostrasse sinais de mudar sua conduta, nos valemos, sob a orientação do dirigente espiritual, de um artifício muito útil. Pedimos para despertar nos refolhos da sua mente, a lembrança de uma vida anterior. Assim foi feito, era como uma regressão de memória, lembrando quem foi e o que fez em encarnação anterior. O espírito ficou atônito. Depois de algum tempo em silêncio, visivelmente abatido, nos disse que na outra vida, ele era o padre inquisidor e o rapaz era o judeu. Os papeis foram trocados.

Depois do choque, esse irmão aceitou nossa ajuda, entregando-se às mãos caridosas dos trabalhadores espirituais.

Passados alguns anos, entra em nossa casa o mesmo rapaz, agora mais velho, com aparência abatida e mais magro, mas com o mesmo semblante de desespero de antes. Ao me ver, imaginando que eu era o responsável pela ajuda no passado, corre em minha direção implorando ajuda, mais uma vez. Na entrevista observei que, ao se sentir aliviado após o tratamento anterior, voltou a delinqüir, atraindo pelas vibrações desequilibradas aqueles que fez sofrer.

Na reunião da noite, nosso orientador espiritual nos disse que deveríamos ajudar aos espíritos perseguidores, mas que aquele irmão ainda precisava sofrer, até que resolva decisivamente procurar regenerar-se, caminhando nas trilhas da libertação.


(1) Compulsoriamente – Trata-se de encarnação em que o espírito não participou do planejamento. Encarnou sem saber o que estava acontecendo.

(2) Aparelhinho – É uma espécie de célula eletrônica, com mensagem gravada, desenvolvida pelos espíritos das sombras, amplamente utilizada nas torturas mentais. A equipe espiritual de socorro, trabalha desintegrando esses aparelhos, trazendo alívio ao paciente.

(3) Cristão Novo – Era a denominação religiosa que os judeus europeus recebiam quando se convertiam ao catolicismo. Era um religioso pouco confiável, porque convertía-se para não perder seus bens e evitar os tribunais da inquisição. Infelizmente eram alvo dos clérigos inquisidores ávidos pelas suas fortunas ou pelas belezas de suas mulheres e filhas.

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